
Em Casa, da autoria do casal de Artistas-Professores-Autores Casa Nic e Inês, é um pequeno livro acordeão e uma reflexão sobre o que é, afinal, o lar de cada um de nós. É ele que Sofia Correia mais tem embrulhado por estes dias na Faz de Conto Livraria, em Coimbra. Também aconteceu no primeiro confinamento mas agora ainda mais e com a particularidade de as pessoas estarem a fazer encomendas não só para elas mas para mandar a amigos e familiares, conta a livreira Sofia, como é conhecida.
De portas fechadas desde 22 de Janeiro, devido ao novo Estado de Emergência, a proprietária da pequena livraria independente no Exploratório, em Coimbra, diz que a queda na facturação foi grande apesar de não total. Tenho encomendas mas é porque me esfalfo para as ter e é muito cansativo! Mais cansativo do que atender os clientes na loja? Sem dúvida, responde. Uma livraria não é um catálogo, é um local de encontro, além disso as pessoas neste segundo confinamento estão com outro ‘mind set’, habituadas talvez ou mais cansadas.
Os dias de Sofia Correia são passados a receber e embrulhar encomendas, levá-las aos correios, responder a emails, mensagens no telemóvel, no Facebook, Instagram e comentários aos posts, vídeos e transmissões em directo que faz regularmente nas redes sociais. Podia não fazê-lo mas é uma opção, quando faço um directo vendo, explica.
Hoje, os posts da Livraria Faz de Conto foram diferentes. Hoje, Sofia publicou uma fotografia da vitrine da loja com um manifesto. O texto começa com a referência ao célebre Manifesto Anti-Dantas, de José Almada Negreiros, e uma exposição de cestos de fruta e verdura pretendem mostrar que as livrarias precisam de vender tangerinas ou detergente da loiça para poderem vender livros também. Trata-se de uma crítica ao facto de no actual Estado de Emergência ser permitido comprar livros em hipermercados, quiosques, bombas de gasolina e postos dos correios mas não nas livrarias que vendam exclusivamente livros. É tão frustrante, desabafa Sofia Correia. Não tenho nada contra a venda de livros nos supermercados mas eles poderem e nós não, não é justo.

Em Abril de 2020, mais de meia centena de livrarias independentes de todo o país uniram-se para criar uma rede de cooperação, com o objectivo de conjugar esforços para enfrentar a crise no sector, agravada pelas condições criadas pela Covid-19. Sofia Correia é associada fundadora da RELI – Rede de Livrarias Independentes, que muita tinta tem feito correr na comunicação social e reunido com o Governo sobre o assunto. Estamos a fazer barulho para que pelo menos no próximo Estado de Emergência isto possa ser alterado e o livro considerado um bem essencial, diz Sofia Correia. No fundo, tenho um grande receio que é o de que todas as livrarias fechem. A minha mãe relembra-me que Coimbra, por exemplo, costumava ter muitas livrarias e agora contam-se pelos dedos, e sem livrarias acaba a bibliodiversidade porque vão ser vendidos sempre os mesmo livros das mesmas editoras.
Como está explicado no manifesto da Faz de Conto, uma livraria não se faz apenas de vendas online, faz-se do contacto, da descoberta, da palavra entre leitor e livreiro. Nós sabemos. Contámos a experiência de ser livreiro por um dia na Faz de Conto, partilhámos as dicas de Sofia com os nossos leitores e até já contámos um conto na livraria.
Hoje pedimos-lhe mais uma sugestão. Qual é a escolha da livreira para quem está em casa? Gosto muito do ‘Rua das Flores nº10′ (Felicita Sala, ed. Alfarroba), uma história que mostra como vizinhos de muitas origens, a morar no mesmo prédio, partilham as suas tradições gastronómicas com os outros. Tem receitas, é muito giro para as famílias que estão em casa que podem ler e experimentá-las juntos. Além da Faz de Conto, encontram neste artigo da revista da Visão outras 18 casas de livros fechadas mas não paradas em Lisboa, Cascais, Sintra, Porto, Braga, Coimbra e Figueira da Foz que aceitam encomendas e enviam pelo correio. Como lembrou Rita Pimenta, no jornal Público: aproveitem, ler não engorda.

Texto: Filipa Queiroz
Fotos: Faz de Conto Livraria