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Esta Fábrica Museu é um achado e é difícil sair de lá sem um souvenir

Achamos que vamos ver qualquer coisa de especial quando pensamos em Vista Alegre, mas a Fábrica e Museu da Vista Alegre, em Ílhavo, supera todas as expectativas. Além das peças em si, descobre-se in loco uma história fascinante e pioneira em Portugal com quase 200 anos. Dos gigantes fornos de fazer porcelana a todo o bairro […]

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Achamos que vamos ver qualquer coisa de especial quando pensamos em Vista Alegre, mas a Fábrica e Museu da Vista Alegre, em Ílhavo, supera todas as expectativas. Além das peças em si, descobre-se in loco uma história fascinante e pioneira em Portugal com quase 200 anos. Dos gigantes fornos de fazer porcelana a todo o bairro construído em torno da fábrica, com escola, teatro, cinema, barbeiro e equipa de futebol, o passeio leva apenas um par de horas e termina com uma supresa e uma eventual compra na loja do Museu, Outlet ou Bordalo Pinheiro, que agora faz parte do mesmo grupo.

Fazemos um apanhado da nossa visita ao museu galardoado pela Associação Portuguesa de Museologia com uma Menção Honrosa na categoria Melhor Museu do Ano, e vencedoras dos prémios Merchandising Cultural e Trabalho de Museografia. A mais emblemática das 11 unidades industriais do grupo está aberta todos os dias ao público (menos no Dia de Natal, Páscoa e 1 de Janeiro) das 10h às 19h (19h30 no Verão). O bilhete do museu custa 6€, com descontos para famílias, jovens, séniores e estudantes, mas no segundo Domingo de cada mês, 18 de Maio e 18 de Junho é grátis. 

O Bairro da Vista Alegre

Já a Vista Alegre produzia vidro quando foi instalada na Quinta da Vista Alegre, em 1824. Eram tantos os operários, artíficies e respectivas famílias que o fundador, o empresário José Ferreira Pinto Basto, do Porto, criou um autêntico bairro. Há uma sala no Museu onde podem ver fotografias e textos que contam tudo. Além das casas dos trabalhadores, havia um teatro, um refeitório, uma barbearia, um banco, uma creche, escuteiros, grémio desportivo, club náutico e uma cultura própria com tradições, eventos sociais, religiosos, desportivos e comemorativos organizados dentro da estrutura da fábrica. Da Banda da Vista Alegre ao Orfeão, como a família Pinto Basto é que introduziu o futebol no país, também havia o Sporting Clube Vista Alegre. Em 1824 vivia meia centena de pessoas no bairro, portugueses e estrangeiros, a maioria vidreiros e ceramistas. Na escola, além do ensino primário os alunos aprendiam música, desenho e pintura. A Câmara Municipal de Ílhavo fez uma requalificação da zona que passou a ser gerida pela autarquia, através do Centro Cultural de Ílhavo. Em finais do século XVII foi mandada edificar a Capela da Nossa Senhora da Penha de França. Com uma imagem em pedra da Nossa Senhora da Penha de França, Padroeira da Vista Alegre, na fachada principal, dentro podem ver azulejos seiscentistas de Gabriel del Barco, retábulos em mármore e talha dourada e abóbadas decoradas com belos frescos. No vão da Capela-Mor há um imponente túmulo episcopal de D. Manuel de Moura Manuel, um trabalho em pedra de Ançã do artista Claude Laprade. A capela foi classificada como Monumento Nacional em 1910 e restauranada em 2015. Fazem visitas guiadas.

 

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A Fábrica Museu

Já se fazia porcelana noutros países da Europa quando em Portugal se faziam os primeiros ensaios laboratoriais, no final do século XVIII, mas foi a Vista Alegre que avançou com a construção dos primeiros fornos especiais, com temperaturas bem elevandas, diferentes dos usados na louça em barro, para nascerem as primeiras peças em porcelana em 1827. Logo no início do percurso, podem visitar alguns deles, não são os primeiros mas datam de meados do século XX e coziam conforme as antigas técnicas. O primeiro museu organizado foi montado em 1964, para conservar e guardar a memória da produção da porcelana artística da Vista Alegre que foi e continua a ser tradição na fábrica, inerente ao prestígio que a marca alcançou ao longo do século XIX. O Museu Vista Alegre foi requalificado entre 2014 e 2016 e mostra não só a história como a evolução estética da produção de porcelana e respectiva importância na sociedade portuguesa nos séculos XIX e XX. É um dos mais completos espólios museológicos do género e conta com mais de 30 mil peças, da meramente utilitária à comemorativa – alusiva a acontecimentos importantes -, brasonada, litofanias e de aparato. Com o tempo, aquela que era vista como um sinónimo de etiqueta e requinte foi ficando mais acessível às famílias de classe média. 

 

A porcelana

Os segredos do fabrico tiveram origam na China e só foram descobertos na Europa em 1709. É uma louça fina, feita de caulino e feldspato, que coze à temperatura de 1350ºC.  Hoje em dia os fornos são a gás natural, mas imagine-se quando eram a lenha e carvão, demorava cerca de 40 horas a cozer e as paredes do forno ficavam marcadas, como podem ver e sentir entrando num dos fornos em exposição no Museu. A Vista Alegre começou por produzir vidro e faiança, que era louça de barro decorada com pintura muito em voga em Inglaterra, mas em 1824 aventurou-se na porcelana. O fundador foi o empresário José Ferreira Pinto Basto, do Porto, construtor naval e armador de navios que mantinha ligações comerciais com o Brasil, a Índia e Macau. Era Cavaleiro da Casa Real e participou activamente nas convulsões políticas e militares que conduziram ao triunfo da monarquia Constitucional em Portugal. Claro que, a produção da Vista Alegre, foi sempre vocacionada para o luxo mas tam,bém tinha uma linha utilitária. Esteticamente, foi marcada pelo estilo francês, neoclássico e Art Nouveau, Art Déco e Modenismo, mesmo fabricando sempre a clássica. Convidavam artistas consagrados para desenhar peças.  

 

Texto: Filipa Queiroz

A escola

O edifício da antiga Creche da Vista Alegre, datado de 1944, foi recuperado e reconvertido em extensão educativa do Museu Vista Alegre. Era lá que ficavam os filhos dos trabalhadores e a ideia é que venha a ter uma programação cultural rica e diversificada que promova a ligação entre a fábrica e os visitantes, criando oportunidades de aprendizagem, nomeadamente através da pintura cerâmica ou modelação de pasta. Hoje, o Museu Vista Alegre assume como missão promover a salvaguarda, investigação e interpretação do património industrial da Fábrica. Aliás, no final do percurso museológico há um brinde: a Oficina de Pintura Manual da Fábrica onde podem ver, ao vivo e a cores, artistas a pintar à mão algumas peças. Peças que depois estão à venda na loja por centenas e mesmo milhares de euros. Não se pode fotografar na oficina e é pedido silêncio absoluto, por isso é um momento bem especial que só quem vai pode guardar. Cá fora, têm 3 lojas irresistíveis: a loja do Museu, o Outlet com oportunidades a preços reduzidos e a loja Bordalo Pinheiro. 

Texto: Filipa Queiroz
Fotos: Filipa Queiroz e Joana Pires Araújo 

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